CARTA ABERTA À CNBB
Ilmº Sr Pe. Geraldo Martins Dias,
Assessor de Imprensa da CNBB
Senhor padre
Mais uma vez a nossa Igreja caminha na contramão da história e se coloca ao lado do erro, da mentira e da violência contra o ser humano.
No episódio da criança de Pernambuco, fica patente a opção da Igreja e demonstra, mais uma vez, essa opção mesquinha e criminosa.
Como católico, me envergonho da forma cruel como os dirigentes da minha Igreja se comportam e mais envergonhado quando, todos juntos, emitem uma nota de apoio a quem excomungou a mãe da criança e os médicos que, zelando pela vítima (a criança estuprada) interromperam a gravidez.
Nessa nota, seus signatários mentem de forma cínica e tentam fazer de bobos todos aqueles que a leram.
Sr Padre,
Logo no item nº 1 da nota, fica bem clara a mentira, quando vocês afirmam:
"A Igreja, historicamente, sempre se colocou a favor da vida, desde a sua concepção e desenvolvimento até o seu declínio natural, iluminada pela Palavra de Jesus"
Será, sr padre, que vocês esqueceram que essa nunca foi uma prática do catolicismo?
Será que o senhor esqueceu que a Igreja católica, e sua Santa Inquisição, queimavam vivos todos aqueles que iam de encontro aos seus interesses?
Será, sr padre, que esses signatários esqueceram que a Igreja Católica, na sua omissão oportunista e criminosa, de certa forma contribuiu para o extermínio de seres humanos nas duas grandes guerras?
Será, sr padre, que esses senhores que assinaram essa nota, esqueceram das barbaridades praticadas pelos "evangelizadores" que vieram para nossa terra, na época do Brasil Colônia, quando castigavam os nativos e até os assassinavam?
Sabe Sr Padre, ao encerrar o item nº 1 da nota, vocês encerram com uma citação que vai de encontro à própria nota: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente” (Jo 10,10). Ter vida plenamente, sr padre, é viver de forma miserável, passar fome, não ter direito de ser criança e ainda ser estuprada aos nove anos?
Será sr padre, que Jesus, ao dizer: “DEIXAI VIR A MIM AS CRIANCINHAS POIS DELAS É O REINO DOS CÉUS" (Lc.18,16), estaria ao lado dos senhores nessa nota?
Olha, ao finalizar o item nº 1, o que vemos é a violação do 2º Mandamento das Leis de Deus: "NÃO TOMARÁS SEU SANTO NOME EM VÃO", algo que a Igreja Católica vem praticando desde o momento em que passou a ter poder. A partir dali, os dirigentes católicos passaram a cometer todo tipo de barbaridade e crimes, TUDO EM NOME DE JESUS.
No item nº 2, "Esse princípio norteou a prática da Igreja no Brasil, também na época do Regime Militar, instaurado em 1964, quando se colocou a favor da vida e da dignidade das pessoas, defendendo os direitos humanos dos perseguidos, torturados e refugiados políticos"
Mais uma vez esses senhores mentem de forma cínica.
Será sr Padre, que esses senhores esqueceram que a Igreja Católica, foi um dos pilares do golpe militar de 1964?
Será sr padre, que esses senhores esqueceram da famosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade?
Será que eles esqueceram que, após o golpe, veio dos Estados Unidos para cá o Pe Patrick Peyton, especialmente para mobilizar a população contra o "comunismo" e, para isso, Criou a famigerada cruzada com o lema: "Família que reza unida, permanece unida".
O sr se lembra disso padre? Fala pra nós qual era mesmo a intenção dessas "cruzadas".
Ora sr padre... Todos sabemos a razão da Igreja ter se voltado contra o golpe!
Não foi pra ficar do lado dos oprimidos e torturados e sim porque ela não conseguiu o que queria, o poder. Os militares traíram também, aos dirigentes religiosos e, com isso, a Igreja mudou sua opção.
O restante da nota, sr padre, é pura enrolação e pompa, coisa que a Igreja sabe fazer bem.
De resto, padre, queria saber se a igreja excomunga padres pedófilos, padres que fazem filhos e não assumem, padres que fazem filhos e induzem a mãe do filho dele a abortar, etc?
Olha padre, a Igreja precisa tomar cuidado!
Essa coisa de excomunhão, hoje em dia, é pura balela e não tem nenhuma força legal, religiosa e, muito menos, moral.
A igreja, parada no tempo, ainda imagina a excomunhão como sendo aquela coisa que acontecia na idade média, quando a Igreja atrelada ao Estado, acabava por destruir o excomungado, mesmo que ele se arrependesse. Ou não era assim padre?
Me responda padre, em qual das leis de Deus está escrito que alguém é ou deixa de ser excomungado ou que o excomungado não entra nos Reino dos Céus?
Padre, Religião vem do termo latino Re-Ligare, que significa re-ligação com Deus. Dessa forma, ao excomungar alguém, na prática o que acontece é o excomungador estar indo de encontro à própria essência do que vem a ser religião.
Olha padre,
Cresce em nós o sentimento de querermos ser excomungados, só pra não estarmos envolvidos com esse tipo de pensamento mesquinho, criminoso e cruel.
Eu, pessoalmente, estou seriamente, propenso a pedir a minha!
Seria possível esse tipo de pedido?
Ah, antes que eu me esqueça, essa carta será publicada no meu blog, http://www.releiturando.blogspot.com/ para que todos tenham acesso a ela.